quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O poder transformador da impressão 3 D

Quando o tema impressão 3 veio à tona no mercado de tecnologia foi recebido ao mesmo tempo com muita desconfiança e entusiasmo.  Prometia uma “nova revolução industrial”, mas sua adoção patinava dificuldades em se encontrar as ‘’killer applications’’, no desenvolvimento dos materiais e insumos e no modelo de negócios.  Hoje essas questões estão sendo resolvidas, de forma gradativa, mas que revelam um cenário muito promissor, principalmente em áreas como de manufatura com design inovador, de prototipagem e, na que eu considero mais relevante, a de saúde, para impressão de próteses e órteses sob medida.

Em 2013, a convite do governo de Taiwan, visitei várias empresas em Taipei. Uma delas com nome incomum, XYZ, subsidiária de um grande grupo eletrônico chamado de Kimpo -- terceiro maior produtor internacional de produtos eletrônicos OEM, após Foxconn e Flextronics --, que pela primeira vez criou uma empresa com marca própria, a impressora 3D batizada de Da Vinci, pois vislumbrava um enorme potencial de mercado para o produto. Mas, no entanto as aplicações eram simples e os materiais raros e caros.

O tempo passou, e agora, pouco mais de dois anos, o cenário é outro. Surgiu uma variedade de startups criativas, empresas inovadoras em diferentes segmentos. Ao mesmo tempo, mudanças no comportamento do consumidor, que privilegia produtos com design exclusivos e sustentáveis.
Segundo o Gartner, até 2017, mais da metade dos fabricantes de bens de consumo empregarão o crowdsourcing – modelo de produção que utiliza a inteligência e os conhecimentos coletivos e voluntários – em cerca de 75% de sua capacidade de inovação e de P&D. Até lá, 80% dos consumidores trocarão seus dados pessoais por redução de custos, e mais conveniência e personalização na compra de bens e serviços.

Para o instituto de pesquisa, nas economias maduras, a redução do trabalho por conta da “digitalização” irá causar nos próximos cinco anos, agitação social e busca de novos modelos econômicos. E até 2018, a impressão 3D será responsável pela perda anual de pelo menos US$ 100 bilhões em direitos de propriedade intelectual.

Assisti recentemente uma apresentação do vice-presidente sênior de Marketing e Estratégias para Indústrias da Autodesk, Andrew Anagnost, no evento Autodesk Universtiy, sobre sua visão de como a indústria de software está vendo o futuro desse mercado e a sua influência junto ao consumidor nos diversos segmentos da indústria. Apresentou diversos de projetos de bens duráveis, de consumo, construção civil, moda, eletroeletrônicos, etc.

Explicou que a indústria automobilística acompanha de perto a experiência de se fabricar sob demanda carros esportivos, ‘’estilosos’’, objeto de desejo de consumidores abonados em busca de exclusividade. Na de moda, a impressão de vestidos e bijuterias, peças únicas e personalizadas que tanto as mulheres adoram, vai mudar o segmento de vestuário.

Para incentivar os desenvolvedores, a Autodesk estabeleceu um fundo de investimento de US$ 100 milhões de criou a plataforma aberta Spark, um consórcio formado por vários players  da indústria de software para apoiar propostas que ultrapassem os limites de impressão 3D e incentive empresas a trazer novas ideias para o mercado. Ela oferece APIs, serviços de impressão 3D em cloud, cursos, treinamento, etc. e serve como um fórum para discussão de padrões, testes de materiais, aplicações, etc.

Matéria do Wall Street Journal, de 21 de setembro, diz que Risco de concorrência leva gigante de entregas UPS a abraçar impressão 3-D. Ela diz que em seu centro de distribuição em Louisville, no Estado americano de Kentucky, a gigante da logística e das entregas expressas de encomendas United Parcel Service Inc recentemente colocou em atividade 100 impressoras 3-D de porte industrial para produzir um pouco de tudo, de peças para o iPhone até componentes de avião.

A UPS quer descobrir se centros de impressão 3-D podem encurtar as redes de suprimentos e prejudicar seu negócio de transporte de cargas, que movimenta hoje US$ 58 bilhões ao ano — ou dar impulso a um potencial mercado de produção local para entrega imediata. Para a empresa americana, a diferença pode significar sua sobrevivência. A UPS não quer que a impressão 3-D afete seu negócio da mesma forma que a internet aniquilou as entregas expressas de documentos há mais de dez anos

Saúde

Como disse, na saúde é onde credito a importância e relevância do desenvolvimento do mercado de impressão 3 D. Creio que é desnecessário explicar o impacto que isso traz para a sociedade e na vida das pessoas.

Alguns exemplos, divulgados pela Singularity University, a chamada Universidade do Google, e o instituto Biofabris de Campinas, mostram a importância e inovação da impressão 3 D nas áreas médica e farmacêutica.

Um dos casos publicados recentemente mostra um paciente de de 54 anos com câncer (sarcoma na caixa torácica) que recebeu costelas e esterno em titanium impressos em 3 D. A maioria das peças de metal 3D impressas utiliza uma tecnologia chamada sinterização seletiva por laser, em que as camadas de metal em pó são fundidas com um feixe de laser. Em vez de um laser, no entanto, a impressora da marca Arcam utiliza uma tecnologia de feixe de elétrons  mais poderoso desenvolvido para aplicações aeroespaciais.




Recentemente a FDA - Federal Drug and Administration, a poderosa agência norte-americana que fiscaliza a indústria de medicamentos dos EUA, aprovou a primeira prescrição de drogasimpressa em 3D,validando a tecnologia como um a nova oportunidade de  mercado para os laboratórios farmacêuticos, passo relevante para viabilização da preconizada medicina personalizada.




A pílula impressa Spiritam levetiracetam, é um medicamento que combate vários tipos de convulsões epilépticas. A ideia de uma pequena empresa chamada Aprecia, é essencialmente um ingrediente velho embalado em um sistema novo, com entrega mais eficaz . Ao contrário de formulações atuais da mesma droga, o Spiritam imediatamente se dissolve em contato com a água e é absorvido rapidamente,  uma propriedade, obviamente, mais benéfica quando se tenta reduzir episódios de convulsão súbitas.

No Brasil, em junho passado, a Unicamp e a Biofabris fizeram 1ª cirurgia de reconstrução crânio com pó de titânio impresso em 3D do Brasil, um exemplo que a tecnologia está acessível e existe competência em nosso país.




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