Quando o tema impressão 3 veio à tona no mercado de
tecnologia foi recebido ao mesmo tempo com muita desconfiança e entusiasmo. Prometia uma “nova revolução industrial”, mas
sua adoção patinava dificuldades em se encontrar as ‘’killer applications’’, no desenvolvimento dos materiais e insumos
e no modelo de negócios. Hoje essas
questões estão sendo resolvidas, de forma gradativa, mas que revelam um cenário
muito promissor, principalmente em áreas como de manufatura com design inovador,
de prototipagem e, na que eu considero mais relevante, a de saúde, para
impressão de próteses e órteses sob medida.
Em 2013, a convite do governo de Taiwan, visitei várias
empresas em Taipei. Uma delas com nome incomum, XYZ, subsidiária de um grande
grupo eletrônico chamado de Kimpo -- terceiro maior produtor internacional de
produtos eletrônicos OEM, após Foxconn e Flextronics --, que pela primeira vez
criou uma empresa com marca própria, a impressora 3D batizada de Da Vinci, pois
vislumbrava um enorme potencial de mercado para o produto. Mas, no entanto as
aplicações eram simples e os materiais raros e caros.
O tempo passou, e agora, pouco mais de dois anos, o cenário
é outro. Surgiu uma variedade de startups criativas, empresas inovadoras em
diferentes segmentos. Ao mesmo tempo, mudanças no comportamento do consumidor,
que privilegia produtos com design exclusivos e sustentáveis.
Segundo o Gartner, até 2017, mais da metade dos
fabricantes de bens de consumo empregarão o crowdsourcing – modelo de produção
que utiliza a inteligência e os conhecimentos coletivos e voluntários – em
cerca de 75% de sua capacidade de inovação e de P&D. Até lá, 80% dos
consumidores trocarão seus dados pessoais por redução de custos, e mais
conveniência e personalização na compra de bens e serviços.
Para o instituto de pesquisa, nas economias maduras,
a redução do trabalho por conta da “digitalização” irá causar nos próximos
cinco anos, agitação social e busca de novos modelos econômicos. E até 2018, a
impressão 3D será responsável pela perda anual de pelo menos US$ 100 bilhões em
direitos de propriedade intelectual.
Assisti recentemente uma apresentação do vice-presidente sênior de Marketing e
Estratégias para Indústrias da Autodesk, Andrew Anagnost, no evento Autodesk
Universtiy, sobre sua visão de como a indústria de software está vendo o futuro
desse mercado e a sua influência junto ao consumidor nos diversos segmentos da
indústria. Apresentou diversos de projetos de bens duráveis, de consumo,
construção civil, moda, eletroeletrônicos, etc.
Explicou
que a indústria automobilística acompanha de perto a experiência de se fabricar sob
demanda carros esportivos, ‘’estilosos’’,
objeto de desejo de consumidores abonados em busca de exclusividade. Na de
moda, a impressão de vestidos e bijuterias, peças únicas e personalizadas que
tanto as mulheres adoram, vai mudar o segmento de vestuário.
Para
incentivar os desenvolvedores, a Autodesk estabeleceu um
fundo de investimento de US$ 100 milhões de criou a plataforma aberta Spark, um consórcio formado por vários
players da indústria de software para
apoiar propostas que ultrapassem os limites de impressão 3D e incentive
empresas a trazer novas ideias para o mercado. Ela oferece APIs, serviços de impressão
3D em cloud, cursos, treinamento, etc. e serve como um fórum para discussão de
padrões, testes de materiais, aplicações, etc.
Matéria do Wall Street Journal, de 21 de setembro, diz
que Risco de concorrência leva gigante de
entregas UPS a abraçar impressão 3-D. Ela diz que em seu centro de
distribuição em Louisville, no Estado americano de Kentucky, a gigante da
logística e das entregas expressas de encomendas United Parcel Service Inc
recentemente colocou em atividade 100 impressoras 3-D de porte industrial para
produzir um pouco de tudo, de peças para o iPhone até componentes de avião.
A UPS quer descobrir se centros de impressão 3-D
podem encurtar as redes de suprimentos e prejudicar seu negócio de transporte
de cargas, que movimenta hoje US$ 58 bilhões ao ano — ou dar impulso a um
potencial mercado de produção local para entrega imediata. Para a empresa
americana, a diferença pode significar sua sobrevivência. A UPS não quer que a
impressão 3-D afete seu negócio da mesma forma que a internet aniquilou as
entregas expressas de documentos há mais de dez anos
Saúde
Como disse, na saúde é onde credito a importância e relevância
do desenvolvimento do mercado de impressão 3 D. Creio que é desnecessário
explicar o impacto que isso traz para a sociedade e na vida das pessoas.
Alguns exemplos, divulgados pela Singularity University,
a chamada Universidade do Google, e o instituto Biofabris de Campinas, mostram a
importância e inovação da impressão 3 D nas áreas médica e farmacêutica.
Um dos casos publicados recentemente mostra um paciente de de 54 anos com câncer (sarcoma na caixa torácica)
que recebeu costelas e esterno em titanium impressos em 3 D. A maioria das peças de metal 3D impressas utiliza uma
tecnologia chamada sinterização seletiva por laser, em que as camadas de metal
em pó são fundidas com um feixe de laser. Em
vez de um laser, no entanto, a impressora da marca Arcam utiliza uma tecnologia
de feixe de elétrons mais poderoso
desenvolvido para aplicações aeroespaciais.
Recentemente a FDA -
Federal Drug and Administration, a poderosa agência norte-americana que fiscaliza
a indústria de medicamentos dos EUA, aprovou a primeira prescrição de drogasimpressa em 3D,validando a tecnologia como um a nova oportunidade de mercado para os laboratórios farmacêuticos, passo
relevante para viabilização da preconizada medicina
personalizada.
A pílula impressa Spiritam
levetiracetam, é um medicamento que combate vários tipos de convulsões
epilépticas. A
ideia de uma pequena empresa chamada Aprecia, é essencialmente um ingrediente
velho embalado em um sistema novo, com entrega mais eficaz . Ao
contrário de formulações atuais da mesma droga, o Spiritam imediatamente se
dissolve em contato com a água e é absorvido rapidamente, uma propriedade, obviamente, mais benéfica
quando se tenta reduzir episódios de convulsão súbitas.
No Brasil, em junho passado, a Unicamp e a Biofabris
fizeram 1ª cirurgia de reconstrução crânio com pó de titânio impresso em 3D do
Brasil, um exemplo que a tecnologia está acessível e existe competência em
nosso país.